Pra que serve a poesia?

A pergunta pode parecer sem sentido, é verdade, mas a poesia acompanha o ser humano há milênios. Na cultura ocidental, pelo menos, desde os gregos antigos. Certamente, a poesia também está presente em outras matrizes culturais desde tempos imemoriais.
A poesia está na vida e não depende do poeta. Prescinde, inclusive, da linguagem. O nascimento de uma criança é poesia, a mudança das estações, um olhar apaixonado, o abraço solidário, tudo isso é poesia. Manoel Bandeira dizia que "a poesia está em tudo - tanto nos amores como nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas".
A poeta entra em cena quando busca concretizar em palavras a poesia que está na vida, na realidade material ou simbólica. O artista da palavra, por sua sensibilidade e consciência aguda, é provocado por um acontecimento, uma situação, um sentimento ou uma simples ideia, internaliza esse estímulo, reelabora e o devolve em palavras. Aí, surge o poema.
O poema será forte ou fraco quanto mais afinada for a sensibilidade do poeta e quanto maior sua capacidade expressiva, isto é, o seu domínio da linguagem. Aqui, o talento expressivo não é sinônimo de escrita supostamente erudita. De maneira alguma. Há poemas sofisticadíssimos que se utilizam de uma linguagem aparentemente simples.
Segundo Pedro Lyra, a tradição poética ocidental explora basicamente três aspectos: a beleza, a grandeza e a novidade.
A beleza não precisa se referir somente àquilo que é considerado bonito. A beleza do poema pode aparecer no ritmo do texto, nas imagens que a poeta constrói, ou na forma e linguagem que ela adota.
A grandeza pode ser de sentimento, de pensamento ou de atitude perante a vida. A grandeza pode, por exemplo, expressar o horror do poeta diante de alguma injustiça ou violência.
Finalmente, a novidade é exigida em tudo, na forma e no conteúdo. A poeta pode falar de um tema desgastado, como a natureza, mas a estrutura que erige, as palavras que escolhe, as imagens que constrói, o ponto de vista que adota, irão trazer a novidade. Manoel de Barros escreveu que "a poesia é voar fora da asa".
E novidade não significa ser novidadeiro. O novo no poema é abrir os horizontes da leitora e do leitor para um jeito novo de ver a vida, a sociedade, o ser humano. Nada mais fundamental nestes tempos sombrios.

Alex Criado

Trecho do poema Conversa sobre poesia com o fiscal de rendas - Vladimir Maiakóvski.

 

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