A literatura como bálsamo
Vivemos tempos tão difíceis, que nos perguntamos se a literatura é realmente necessária. Se não seria uma espécie de escapismo, de fuga da realidade. Ora, mas será que não é legítimo se ausentar um pouco de realidade tão opressora? Ainda mais neste momento histórico em que somos governados por um genocida perverso.
A literatura, assim como outras artes, não pode perder o compromisso com seu tempo, com as dores de seu povo. A literatura pode – e deve – ser lança, porrete, megafone, punhos erguidos. Mas pode também ser unguento, carinho, afago, braços abertos.
Mesmo que os tempos sejam sombrios, que aquilo a que chamamos de realidade seja sufocante, isto não significa que não possamos sorrir. É verdade que rir ou gargalhar no momento atual pode parecer escárnio ou, na melhor das hipóteses, indiferença com a tragédia do outro. Mas sorrir, aquele sorriso cúmplice, reforça a ideia de “que ninguém solta a mão de ninguém”, lembram-se? Um conto engraçadinho de Drummond, uma crônica divertida de Antonio Prata, um poema esperançoso de Sergio Vaz podem aliviar nossas feridas, abrandar nossas dores...
Este espaço – Literatura Brasileira na Espanha – tem reunido brasileiras e brasileiros dos dois lados do Atlântico, tem contado também com espanhóis que admiram nossa poesia, nosso ritmo, nossa alegria. A arte escrita por brasileiras e brasileiros tem tecido fios invisíveis de afeto.
Façamos, então, da literatura um bálsamo. Se não cura, como aquele beijo de mãe no machucado da criança, alivia, enternece. E nos faz mais fortes.
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